MATÉRIA 13/05 QUARTA-FEIRA - MATÉRIA 007 / DE: FRANCINE SANTOS
Esse é um dos vários questionamentos explorado na saga Algoritmos Sagrados. O texto abaixo é retirado de uma coletânea da saga onde o anjo Joel, em sua forma carnal (nona encarnação), ocupa seu lugar como um dos primeiros professores da USP (Universidade de São Paulo).
Esse é um dos vários questionamentos explorado na saga Algoritmos Sagrados. O texto abaixo é retirado de uma coletânea da saga onde o anjo Joel, em sua forma carnal (nona encarnação), ocupa seu lugar como um dos primeiros professores da USP (Universidade de São Paulo).
Retirado do Diário de Joel – Algoritmos Sagrados
Naquela
manhã, uma segunda feira, eu estava pronto para enfrentar aquela jornada junto
a mentes pueris que divergiam entre o brilhantismo e a insanidade. Era uma grande responsabilidade para mim,
afinal eu seria o tutor da primeira turma da Universidade de São Paulo. É claro, eu não via Manecos ou Zezinhos, mas
revolucionários ou ditadores, tudo era possível entre aquela turma de jovens entusiastas.
Apesar
da minha euforia, em meu palanque procurei-me alinhar com postura e começar a aula.
O pano de fundo naquele dia era a criação do homem. É claro que as aulas de ciências
possuem caráter cientifico, mas nunca deixei minhas ideologias filosóficas de
lado e, naquela aula, me atrevi a pronunciar o nome de Deus que naquele momento
oportuno não foi em vão.
Após terminar
minha introdução, um sorriso jubiloso despontou; era muito bom sair das amarras
do pragmatismo. Porém meu entusiasmo foi desfeito quando um aluno ergueu a mão.
–
Deus existe? – Essa foi sua
pergunta, uma pergunta que eu não esperava.
Coloquei-me
à frente.
Sabia
com o avanço da ciência que questionamentos iriam despontar de todos os lados,
mas não esperava em plena década de 30 a ideia de um ateu, ainda mais em um
país tão religioso como o Brasil.
Após
uma baforada, decidir responder com toda eloquência.
– O
agnóstico pode ser teísta ou ateísta. Tanto um como outro admite não possuir
conhecimento que comprove a não existência de Deus, porém apenas os ateístas
admitem que Deus não exista.
Abaixei
minha cabeça e comecei a andar de um lado para o outro.
– O
ateu normalmente tem um raciocínio matemático, focal, e usa quase sempre os
mesmos argumentos simplórios para refutar a existência de um Deus. Na verdade o
pensamento ateu é confortante do ponto de vista prático, já que fechando o
campo de visão das possibilidades sobre a vida, também se diminui o número de
peças e sua complexidade.
O aluno
levantou a mão novamente sem ter terminado meu raciocínio, e lançou dessa vez
uma pergunta retórica.
– Mas a
existência de Deus não pode ser comprovada, certo? – retrucou ele, no claro intuito
de me derrubar.
– Não
confunda fé com fedeismo – essa foi minha resposta veloz. Ele lançou um olhar
franzido e indagado. – A fé é sustentada
por três pilares: conhecer entender e acreditar. Se qualquer um desses pilares estiver
ausente, você não tem fé e sim fedeismo.
Agora
eu estava direcionando meus olhos para o jovem. Aquela discussão tinha tomado
proporções pessoais.
– A
religião e a ciência de nada se diferem.
– Você
pode dar um exemplo? – indagou o aluno. Naquela pergunta tive certeza que
estava lhe dando com um ateu.
– É
claro meu jovem. Vamos voltar no tempo, 1878,
quando Thomas Edison decidiu que iria criar um dispositivo luminescente. Naquela época Edison não foi a um manual de
como se cria uma lâmpada; todo o contexto se baseou em um conhecimento superficial
e na ideia de que aquilo poderia ser possível. Na verdade, sua base era tão
fraca que chegou a testar pelos de gatos como possível condutor de sua lâmpada.
Portanto toda a ciência que o ateu se orgulha também surgiu de uma ideia de fé.
– Mas não
podemos ver Deus, a luz sim – retrucou o aluno, agora com os braços abertos. Eu
ri com aquela expressão relutante, mas não era uma risada bonachona e sim cômica
pela sua persistência.
– Ver
não é crer meu caro.
– Não
estou te entendendo? – indagou ele, agora frustrado.
– Se
você caminhar na praia e encontrar pegadas ao seu lado iria negar que alguém
caminhou ali?
– É
óbvio que não.
– Pois
bem meu aluno, assim também são os olhos da ciência – de minha face despontou
um sorriso amigável. – No século XVIII John Michell descreveu a hipótese de
estrelas negras.
– Estrelas
negras? Não podem existir estrelas negras.
– Sim
pode, como nosso personagem que deixou suas pegadas na areia – eu fiz uma pausa
para aumentar o suspense. – Apesar de invisíveis aos olhos, as estrelas negras deixam
um rastro, sendo possível para os astrônomos detectá-las – eu apontei o dedo
para ele antes que abrisse sua boca. –
Calma e vou explicar. – Foi outra pausa estratégica. – Quando há uma estrela
próxima deste fenômeno fica visível uma órbita denunciando sua existência, mesmo
que não possa ser vista. Sua força gravitacional é tão devastadora que nem a luz pode
escapar.
O aluno
abaixou a cabeça, parecia que aquele ateu estava amolecendo.
– Mas
professor, quais são as pegadas de Deus?
– São inúmeras,
basta ler a Bíblia. Porém é claro, não vou deixa-lo sem um exemplo – um novo
sorriso; ateus não vivem sem um bom exemplo. – Conhece algo sobre o livro de
Levíticos?
– Não
muito.
– Então
você julga algo que não conhece?
Ele
ficou vermelho de vergonha.
–
Certo. Deus orientou Moisés a escrever um livro contendo diversas leis civis, sacerdotais,
sanitárias, tributárias, militares, judiciais, entre outras ao povo do gênesis,
que vagou pelo deserto buscando a Terra Santa. Porém vamos focar nas
sanitárias, as leis sobre higiene e nutrição. Devo lembra-lo que de acordo com historiadores,
esse evento deve ter ocorrido por volta do século XIV antes de Cristo. Agora
vamos fazer um paralelo com o período áureo da humanidade, quando os homens se
descobriram como indivíduos e batiam no peito achando que eram capazes de todas
as proezas através da ciência e imaginação. Londres foi a cidade modelo dessa
época, ela cresceu além dos horizontes. Os homens se aglomeravam, mas eles
desconheciam o perigo das criaturas microscópicas, até que estas lhe aplacaram.
Muitas foram as doenças ocorridas na europa entre os séculos XV e XIX que dizimou
milhares de pessoas. Só a peste negra matou 1/3 da população mundial. Porém
essas doenças não açoitaram o povo de Deus por um motivo bem óbvio, as regras
sobre higiene e nutrição visava a compreensão desses patógenos; posso afirmar
que tais leis estão à frente das nossas em pleno século XX. Agora lhe pergunto:
como isso pode ser explicado negando a existência de uma forma de divindade que
com certeza é mais sábia do que nós?
O aluno
retornou um rosto pasmado e não ousou fazer uma nova pergunta.
Antes
de terminar minha aula, fechei aquele assunto olhando para aquela turma
promissora.
– Lembrem-se:
conhecer, entender e acreditar. Aprendam a seguir as pegadas da vida.
Após
aquele dia, o aluno ateu não apareceu mais na minha sala. Descobri que havia
deixado a faculdade. Devo admitir que fiquei preocupado, talvez um sentimento
de culpa. Esse sentimento me assolou até meados de 1942 quando tive a notícia que
meu ex-aluno havia virado pastor e estava em meio ao tumulto de uma grande
guerra onde lutava armado apenas com sua Bíblia.
Diário de Joel – Algoritmos
Sagrados de M. L. Pontes
O anjo Joel aparece em Máscaras Reveladas em sua 11ª
encarnação como o insubstituível Aaron Abrawanel.
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